O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que mais de 34 mil pessoas vivem em unidades de conservação (UCs) no Acre. Os dados fazem parte do Censo Demográfico 2022, que pela primeira vez apresentou um recorte específico sobre a população residente nesses territórios.
A apresentação oficial ocorreu no campus da Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco. Segundo o levantamento, o estado abriga 34.394 moradores em UCs, sendo a maioria autodeclarada parda. Do total, cerca de 19,3 mil são homens e 15 mil são mulheres.
O estudo mostra ainda que a maioria dessas pessoas vive em áreas de uso sustentável, como reservas extrativistas e Áreas de Proteção Ambiental (APA), que representam 98,7% da população nacional em unidades de conservação.
O presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Júlio Barbosa, defendeu que os dados sejam utilizados para enfrentar problemas antigos, como a regularização fundiária. “Na Reserva Chico Mendes, estimamos cerca de 10 mil moradores. Entre 500 a mil estão em situação irregular. Precisamos resolver isso com apoio do governo”, declarou.
A pesquisa também evidencia deficiências estruturais. No Acre, 27,2 mil pessoas obtêm água diretamente de fontes naturais, como rios e poços rasos. Em relação ao esgoto, 12,8 mil utilizam fossas rudimentares e 8 mil vivem sem banheiro ou sanitário.
Para Francisco Damasco, gerente de territórios tradicionais e áreas protegidas do IBGE, os dados atendem a uma demanda histórica de comunidades e pesquisadores. “Essas informações podem orientar políticas públicas para a gestão e ocupação dessas áreas”, afirmou.
O Acre tem papel central nesse cenário, já que foi o primeiro estado brasileiro a instituir reservas extrativistas como modelo de proteção ambiental vinculado ao modo de vida das populações tradicionais. Segundo o IBGE, a consolidação desses dados só foi possível após avanços técnicos no mapeamento das UCs, o que permitiu identificar com precisão os limites e os habitantes desses territórios.