Entre janeiro e julho de 2025, a SaferNet recebeu 49.336 denúncias anônimas de abuso e exploração sexual infantil na internet, um aumento de 18,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os registros representaram 64% de todas as notificações de crimes cibernéticos recebidas pela entidade, que também monitora casos de racismo, violência contra a mulher e outras violações online.
O relatório da organização evidencia a gravidade da violência contra crianças e adolescentes no ambiente digital, com destaque para o uso crescente de ferramentas de inteligência artificial na produção de conteúdos de exploração sexual. De acordo com a SaferNet, esses materiais são gerados tanto a partir da manipulação de imagens reais quanto por meio de técnicas de deepfake e imagens hiper-realistas criadas por comandos de texto. “A proliferação de aplicativos de IA generativa permite que se pegue a foto de uma pessoa vestida e se tire a roupa daquela pessoa”, afirmou Thiago Tavares, fundador e diretor-presidente da instituição, em alerta já feito no ano anterior.
Para enfrentar o problema, a SaferNet abriu uma chamada pública para que adolescentes vítimas da criação de imagens não consensuais, bem como pessoas que tenham conhecimento desses casos, relatem suas experiências. O objetivo é reunir informações e propor políticas de proteção mais eficazes. As denúncias podem ser feitas pelo canal de ajuda da entidade ou por formulário especializado para casos de deepfake.
O relatório também mostra como a mobilização nas redes sociais impacta diretamente no volume de registros. Após o influenciador Felca divulgar, em 6 de agosto, um vídeo denunciando perfis que estimulam a adultização infantil, houve um pico de notificações. Entre os dias 6 e 18 de agosto, foram contabilizadas mais de 6,2 mil denúncias, das quais 52% ocorreram após a viralização do conteúdo. A repercussão levou a Câmara dos Deputados a colocar em pauta o Projeto de Lei nº 2.628 de 2022, que obriga plataformas digitais a adotarem medidas de proteção para impedir que crianças e adolescentes acessem conteúdos ilegais ou inapropriados.
A SaferNet reforça que, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente, a manipulação de imagens com esse tipo de finalidade é considerada crime. Além disso, orienta que qualquer pessoa pode denunciar páginas que contenham imagens de abuso e exploração sexual de menores por meio da Central Nacional de Denúncias, em parceria com o Ministério Público Federal, ou acionar o Disque 100 em casos de suspeita de violência sexual.