O governo do Acre repassou, em 21 de novembro, bolsas para estudantes e professores indígenas desenvolverem pesquisas sobre pesca artesanal em aldeias dos povos Kaxinawá, Katukina e Yawanawá. A ação integra o Programa de Iniciação Científica Júnior Jovem Cientista da Pesca Artesanal, executado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Acre em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura, e busca apoiar projetos que relacionam conhecimento tradicional e investigação científica .
As bolsas contemplam 29 estudantes da rede pública, que receberão R$ 300 mensais ao longo de doze meses, e 11 professores indígenas, que terão direito a uma parcela única de R$ 10 mil. O edital do programa estabelece como prioridade estimular jovens ligados à pesca artesanal a produzir dados, registrar práticas tradicionais e desenvolver interesse por ciência e tecnologia a partir das dinâmicas das próprias comunidades. A iniciativa também foi estruturada para enfrentar a evasão escolar e fortalecer o vínculo dos estudantes com a vida acadêmica, aproximando pesquisa e cotidiano das aldeias.
O presidente da Fapac, Moisés Diniz, afirmou que as bolsas buscam aproximar juventudes indígenas das oportunidades abertas pela bioeconomia e pela inovação. Segundo ele, práticas tradicionais de subsistência são base de conhecimento que pode gerar soluções locais. “Nossos rios eram o supermercado dos nossos avós. Precisamos resgatar e valorizar essa tecnologia de sobrevivência na Amazônia”, declarou.
Entre os professores contemplados está Michael Katukina, que coordena atividades de campo com os alunos da escola indígena. Ele explicou que o projeto permite que estudantes acompanhem pescadores das aldeias, registrem métodos de manejo e analisem informações coletadas em campo. Para ele, a proposta reforça a integração entre escola, comunidade e tradição. Michael afirmou que os jovens passam a observar a pesca artesanal como prática central para a organização social das aldeias, além de reconhecê-la como parte da formação cultural de suas famílias.
O docente destacou também que o contato direto com o território amplia a compreensão dos estudantes sobre o uso dos rios e a importância de registrar técnicas transmitidas entre gerações. Ele afirmou que a participação dos jovens tem fortalecido a valorização cultural nas aldeias. Segundo ele, a expectativa da comunidade é de que o programa ajude a manter práticas que vinham sendo reduzidas ao longo dos anos, especialmente entre os mais novos.
As bolsas representam uma estratégia de incentivo à produção de conhecimento em escolas indígenas e reforçam políticas voltadas à pesca artesanal, atividade que integra a base alimentar e econômica de diversas comunidades do Acre.