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Meio ambiente

Inteligência artificial ajuda a identificar sementes e impulsiona a restauração da Amazônia

Às vésperas da COP30, a restauração da floresta amazônica ganha novas ferramentas tecnológicas para enfrentar o avanço da degradação. Pesquisadoras do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e de instituições do Pará desenvolvem um projeto que utiliza inteligência artificial para avaliar a viabilidade de sementes nativas e acelerar o processo de recomposição florestal. A iniciativa é financiada pelo Instituto Serrapilheira e pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e atua no Baixo Tapajós, região que engloba várzea, terra firme, igapó e campinarana.

A engenheira florestal Lydiane Bastos, responsável pela pesquisa, explica que o uso de imagens de raio-X e scanners permite identificar o interior das sementes e prever sua capacidade de germinação. “Dependendo da espécie, as sementes podem levar semanas, meses ou até anos para germinar. Assim, quando a gente descobre se aquele lote estava viável ou não, ele já está impossibilitado para comércio”, disse. O uso da tecnologia reduz o tempo das análises e melhora a seleção de espécies adequadas para cada tipo de solo e ambiente.

O trabalho busca apoiar políticas públicas de restauração e fortalecer a cadeia de coletores locais. A pesquisadora Jéssica Reis, da Embrapa de Belterra, que atua em parceria no projeto, lembra que o Pará tem a meta de restaurar 5,6 milhões de hectares até 2030. “Para nós que trabalhamos com reflorestamento, é uma esperança ver nossas florestas sendo recompostas. Essa esperança está guardada dentro das sementes”, afirmou.

A tecnologia também ajuda a diferenciar espécies semelhantes, como as copaíferas, e a identificar quais variedades se adaptam melhor às mudanças climáticas. As informações são processadas por algoritmos que cruzam características como peso, forma, cor e textura. Essa precisão auxilia coletores, como José Viana, da Floresta Nacional do Tapajós, que vê na pesquisa uma forma de garantir renda e permanência no território. “A floresta é minha segunda casa. Não tenho cisma e nem dúvida de errar, já está gravado na mente”, disse.

Os estudos contam com o apoio do Laboratório de Sementes Florestais da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), o único da região Norte certificado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, e do Centro de Sementes Nativas do Amazonas (CSNAM), em Manaus, que possui o único equipamento de raio-X para esse tipo de análise. O Museu Paraense Emílio Goeldi também participa, trocando informações sobre caracterização de espécies florestais por meio de inteligência artificial.

Segundo o professor Túlio Silva, da Ufopa, a pesquisa pode ampliar o uso da tecnologia para investigar os impactos de agrotóxicos sobre a germinação de plantas nativas. A área de Santarém e Belterra perdeu 56 mil hectares de floresta para pastagens entre 2014 e 2024. “A região é uma fronteira agrícola em que a agricultura está crescendo muito. Quando abre um espaço para lavoura, na maioria dos casos, é cercado por floresta. Será que esse defensivo pode prejudicar o crescimento inicial de um vegetal próximo?”, questionou.

A pesquisa busca aproximar a ciência florestal da realidade tecnológica já usada pelo agronegócio desde os anos 1960, quando o raio-X começou a ser aplicado em culturas como a soja. Agora, essa metodologia é adaptada às espécies nativas, com o objetivo de tornar a restauração florestal mais eficiente e acessível.

O projeto integra uma rede de cooperação científica que envolve o Inpa, a Embrapa, a Ufopa e o Museu Goeldi, além de coletores locais. A iniciativa reforça a importância da integração entre ciência, tecnologia e comunidades tradicionais na recuperação da Amazônia, em um momento em que o bioma enfrenta os efeitos das mudanças climáticas e a redução das áreas de floresta.

Fonte: InfoAmazonia