Lideranças indígenas do Brasil e Peru unem esforços na proteção dos povos isolados
Os líderes e representantes reunidos aprovaram a ideia dos corredores dos povos isolados
Por Leando Altheman
Lideranças indígenas do Brasil e do Peru participaram de um encontro entre os dias 19 e 22 de outubro no Centro Chaikuni, no Departamento de Loreto na Amazônia Peruana. O encontro reuniu as maiores organizações indígenas amazônicas dos dois países, a AIDESEP no âmbito do Peru e a COIAB, no âmbito do Brasil. Estiveram presentes representações dos povos Marubo, Manchineri, Huni Kuin, Shipibo-Conibo e Ashaninka entre outros.
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Os líderes e representantes reunidos aprovaram a ideia dos corredores dos povos isolados como uma estratégia de proteção das fronteiras diante das ameaças do narcotráfico, madeireiros ilegais, estradas e mineração.
Francisco Piyãko, liderança Ashaninka presente no encontro, explica que a ideia dos corredores dos povos isolados não se trata de criar uma área de proteção ou algo do gênero, mas de fortalecer tanto as comunidades quanto as instituições em áreas que já existem e se sobrepõe através de terras indígenas e parques nacionais dos dois lados da fronteira.
“Irão se sobrepor terras indígenas, parques e várias outras modalidades de área de proteção. A ideia dos corredores é proteger os isolados, pactuando entre as organizações indígenas que compartilham território com eles no Brasil e no Peru. Já existem estudos técnicos bem definidos para fazer esta proteção aos isolados, fortalecendo as comunidades do entorno e chamando o estado para reconhecer e atuar junto nessa proteção para não deixar que essa região seja destinada a alguma atividade que vá impactar na vida dessas populações. Não é nada que venha a se demarcado. O nome corredor é um espaço onde circulam estes povos”, explica Piyãko.
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A ideia dos corredores também surge como uma resposta ao crescimento das atividades ilegais e atuação de grupos criminosos na região de fronteira.
“As autoridades competentes de ambos os países devem cumprir com sua obrigação constitucional de proteção de acordo com a constituição de cada país. Já quanto às comunidades, devemos buscar parcerias para que a gente continue nos fortalecendo como organização para conscientizar nossas comunidades sobre as graves ameaças que a gente vive nessa região. O que não podemos é deixar nossos povos a serviço dessa ilegalidade”, completou Francisco Piyãko.
A proposta de criação dos corredores, no entanto, não é ser nova. As discussões a esse respeito já ocorrem em fóruns há alguns anos.
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As áreas mapeadas para a proposta de criação dos corredores de povos isolados Yavarí-Tapiche e Pano-Aruake localizam-se entre os estados do Amazonas e Acre no Brasil e os departamentos de Loreto e Ucayalli, no Peru.
A percepção de lideranças como Francisco, é que com o avanço dessas atividades ilegais, os povos isolados e de recente contato têm perambulado pela região de fronteira, sem qualquer tipo de proteção ou garantia. Já existem diversos relatos de massacres perpetrados por traficantes, madeireiros e mineradores ilegais contra essas populações.
Mais recentemente, lideranças indígenas têm percebido a formação de cartéis entre o crime organizado e grupos que praticam atividades ilegais. Além de Francisco, Wewito Piyãko também esteve presente no representando a organização Apiwtxa.
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Localizada em uma área de fronteira, os Ashaninka da Terra Indígena Kampa do rio Amônia têm resistido à pressão, dialogando e denunciando atividades ilegais.
“Estamos sempre à disposição do Estado para esta defesa. Muito do que tem acontecido é justamente por esta ausência do Estado na região. Na nossa parte que compete iremos contribuir com este corredor”, concluiu Francisco Piyãko.