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Rastreabilidade no agronegócio entra no centro do debate após União Europeia adiar exigências para 2026

O adiamento, para dezembro de 2026, do início das exigências da União Europeia para a importação de commodities associadas ao desmatamento marcou o debate sobre rastreabilidade no agronegócio realizado em 5 de dezembro de 2025, durante o Agro em Código 2025, evento promovido pela Embrapa, GS1 Brasil e Cubo Itaú, que reuniu representantes do setor produtivo, do governo e do mercado para discutir os impactos da chamada Lei Antidesmatamento Europeia sobre as cadeias brasileiras de produção.

A legislação europeia estabelece restrições à entrada de soja, carne bovina, café, cacau, madeira, borracha e óleo de palma oriundos de áreas desmatadas após dezembro de 2020. O cumprimento dessas exigências concentrou as discussões da programação da manhã, especialmente diante do novo prazo anunciado pelo Conselho da União Europeia.

Na abertura do debate técnico, foi apresentada a plataforma Agro Brasil + Sustentável, desenvolvida pelo Serpro em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária. A ferramenta é gratuita, de adesão voluntária, e integra sistemas de identificação pessoal, cadastro de imóveis rurais, informações trabalhistas e dados ambientais, podendo ser ajustada conforme mudanças regulatórias e conectada a diferentes modelos de certificação.

Em seguida, foi detalhado o protocolo de rastreabilidade Embrapa Trace, ainda em processo de validação. O pesquisador da Embrapa Agricultura Digital Anderson Alves afirmou que o principal entrave hoje está na padronização dos protocolos de rastreabilidade exigidos tanto pela norma europeia quanto por legislações brasileiras. “Existe ainda um gargalo tanto no atendimento à EUDR quanto de outras legislações brasileiras, que é a questão dos protocolos de rastreabilidade. A Embrapa entra desenvolvendo soluções de protocolos integrados, soluções digitais e APIs de rastreabilidade”, afirmou.

A validação inicial do Embrapa Trace ocorre nas cadeias da carne bovina, couro, soja e café, com financiamento do Ministério da Agricultura e Pecuária e do Banco Mundial. A próxima fase, financiada pela agência alemã KFW, deverá alcançar outras cadeias produtivas. De acordo com Aécio Flores, CEO da FSTecnologias Agropecuárias e consultor na construção do protocolo, a multiplicidade de exigências e auditorias gera custos elevados e amplia riscos comerciais. “A proposta do Embrapa Trace é ser um meta-certificado para o agronegócio, simplificando com transparência a sustentabilidade no agronegócio”, disse. Segundo ele, o sistema pretende oferecer um parecer único, digital e auditável.

Os desafios para atender às exigências da EUDR também foram discutidos em painel com representantes do governo, importadores europeus e setores produtivos. O chefe de comércio internacional do Itamaraty, Eduardo Chikusa, avaliou que o cenário ainda é de indefinições, mas cria espaço para soluções. Para o gerente de sustentabilidade da Abiove, Pedro Garcia, o adiamento amplia o prazo para ajustes, mas não permite interrupção no processo. “Esse um ano de postergação vai dar mais um fôlego no sentido de as empresas terminarem de estruturar seus sistemas internos, mas ao mesmo tempo entendemos que não pode parar a agenda”, afirmou.

A programação incluiu ainda debates sobre taxonomia sustentável, financiamento verde e a apresentação de experiências de empresas que já adotam sistemas de rastreabilidade, como Usina Granelli, Granjas 4 Irmãos, Suzano e Marvin Blue. A diretora comercial da Usina Granelli, Mariana Granelli, relatou que a rastreabilidade alterou o posicionamento da empresa no mercado. “Com a rastreabilidade saímos da dependência total do mercado de commodities e criamos marca, criamos valor. Tivemos abertura de novas possibilidades de negócios e mercado”, declarou.

Durante o Agro em Código 2025, Embrapa Agricultura Digital e GS1 Brasil assinaram um Acordo de Cooperação Técnica para a continuidade do evento. O termo foi firmado pelo chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital, Stanley Oliveira, e pelo presidente da GS1 Brasil, João Carlos de Oliveira. A edição deste ano contou com patrocínio do Serpro e da Paripassu e teve transmissão on-line, com acesso posterior ao conteúdo.