O avanço da estiagem no Vale do Juruá tem gerado impactos em diferentes municípios do Acre. Em Cruzeiro do Sul, o Rio Juruá atingiu nesta semana o nível de 4,06 metros, abaixo dos 4,77 metros registrados no mesmo período de 2024. A redução do volume de água já afeta a operação de embarcações e preocupa autoridades locais quanto ao risco de isolamento de comunidades ribeirinhas.
Segundo o Corpo de Bombeiros, a navegação torna-se mais arriscada devido ao aumento de bancos de areia e troncos submersos, que podem causar acidentes. Municípios como Marechal Thaumaturgo e Porto Walter, onde o transporte fluvial é a principal via de acesso, já enfrentam dificuldades logísticas. A Defesa Civil monitora a situação e atua no envio de suprimentos.
O cenário também é crítico no Rio Bagé, afluente do Tejo, onde a escassez hídrica tem comprometido o cotidiano de mais de 300 indígenas de cinco aldeias na região do Alto Bagé. De acordo com o cacique Zé Francisco Arara, deslocamentos antes feitos em seis horas agora chegam a durar até dois dias. O abastecimento de alimentos e o acesso à saúde estão entre os principais desafios.
Para enfrentar o problema, a Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ) tem implementado estratégias de adaptação. Entre as ações está a construção de tanques de piscicultura financiados pelo Fundo Amazônia, com objetivo de assegurar alimentação durante os períodos de estiagem. “É uma resposta concreta à mudança do clima, que já impacta diretamente nosso modo de vida”, afirmou Francisco Piyãko, coordenador da OPIRJ.
Na área da saúde, o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Rio Juruá, Isaac Piyãko, destacou os desafios operacionais para levar atendimento às aldeias mais distantes. A experiência acumulada em anos anteriores tem sido aplicada, mas a logística segue comprometida.
A redução dos rios interfere também na fauna e flora locais, afetando os ciclos ecológicos e os meios de subsistência das populações tradicionais. As lideranças indígenas têm reforçado a necessidade de políticas públicas permanentes para mitigar os efeitos da crise ambiental no território amazônico.