Nove em cada dez mulheres no Brasil já sofreram algum tipo de violência ao se deslocar à noite para atividades de lazer, segundo relatório do Instituto Patrícia Galvão produzido em parceria com o Locomotiva e apoio da Uber, divulgado em novembro de 2025. O estudo, baseado em entrevistas com 1,2 mil mulheres de 18 a 59 anos, mostra que a maior parte das agressões ocorre em percursos para bares, restaurantes, espaços culturais, festas ou eventos, e inclui desde cantadas inconvenientes até casos de estupro, que atingem ao menos 10% das entrevistadas.
O levantamento indica que o risco cresce entre mulheres LGBTQIA+, grupo no qual o índice de estupro relatado dobra. A pesquisa mostra que 98% das brasileiras que saem à noite sentem medo de sofrer violências, sentimento reforçado pelos dados de agressões sexuais, físicas, racismo e discriminação. Entre mulheres pretas, a proporção de vítimas é maior em todos os tipos de violência citados, incluindo importunação sexual, assédio, agressões físicas e racismo.
As entrevistas revelam que 72% das mulheres já receberam olhares insistentes ou flertes indesejados, percentual que sobe para 78% entre aquelas de 18 a 34 anos. A vulnerabilidade também aumenta conforme o meio de transporte utilizado: 73% das violências ocorreram quando a mulher estava a pé, 53% em deslocamentos de ônibus, 18% em carros particulares ou de aplicativo, 16% no metrô, 13% no trem e percentuais menores, mas ainda presentes, em motocicletas de aplicativo, bicicletas e táxis.
Além do componente sexual das agressões, o estudo registra que 34% das entrevistadas já foram vítimas de assalto, furto ou sequestro relâmpago durante deslocamentos noturnos, e 24% relataram episódios de discriminação por características que não as raciais. Entre mulheres LGBTQIA+, esse tipo de violência atinge 48%. A pesquisa também aponta que 66% das mulheres negras e 63% do total já desistiram de sair de casa por sensação de insegurança. Muitas também presenciaram agressões contra outras mulheres: 42% afirmaram ter testemunhado algum caso, e pouco mais da metade das que presenciaram ajudou a vítima.
Segundo o relatório, quando a violência acontece, 58% das vítimas são acolhidas por alguém — conhecido, desconhecido ou funcionário do local — e 53% preferem retornar para casa após o episódio. Apenas 17% procuraram a polícia, seja indo a uma delegacia ou chamando uma viatura, e uma parcela ainda menor acionou a Central de Atendimento à Mulher.
As estratégias de autoproteção fazem parte da rotina da maioria das brasileiras que saem à noite. De acordo com o estudo, 91% avisam alguém de confiança sobre o destino e horário de retorno; 89% evitam locais desertos ou escuros; 89% buscam companhia para o trajeto; 78% deixam de usar determinadas roupas ou acessórios; e 58% carregam peças extras para cobrir o corpo. Os pesquisadores destacam que o padrão de comportamento reflete a percepção de risco e a tentativa de reduzir situações de vulnerabilidade.
O levantamento foi realizado por meio de formulários respondidos online em setembro, e integra uma série de estudos sobre violência de gênero em espaços públicos e trajetos urbanos. O Instituto Patrícia Galvão afirma que os dados mostram a persistência da violência contra mulheres em deslocamentos cotidianos e evidencia a necessidade de políticas públicas que ampliem a segurança e garantam o direito ao lazer.
Fonte e foto: Agência Brasil