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Cultura

Documentário revisita o assassinato de Vladimir Herzog e seu impacto político

O documentário Herzog – O Crime que Abalou a Ditadura será lançado nesta quinta-feira (23) pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL), em referência aos 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em 25 de outubro de 1975. A produção, disponível no canal do ICL no YouTube, reconstrói a última semana de vida do jornalista e as repercussões de sua morte, com depoimentos de familiares, amigos e colegas de redação.

Dirigido e roteirizado pelo jornalista e documentarista Antônio Farinaci, o filme busca apresentar uma nova leitura sobre um episódio amplamente documentado na história brasileira. “A grande preocupação que a gente tinha era fazer isso de uma forma que criasse um interesse novo pela história, que já foi contada muitas vezes. A gente queria trazer um elemento novo”, afirmou Farinaci em entrevista à Agência Brasil. O documentário também inclui depoimentos de jornalistas como Dilea Frate, Paulo Markun, Rose Nogueira e Sérgio Gomes, além de Ivo Herzog, filho do jornalista, e do cineasta João Batista de Andrade.

A diretora executiva de conteúdo do ICL, Márcia Cunha, explicou que a narrativa foca especificamente no crime, desde uma semana antes até uma semana depois do assassinato. “Escolhemos esse recorte para mostrar como a ditadura agia, o que era capaz de fazer e, inclusive, utilizando alguns comportamentos e estratégias que são repetidos até hoje”, disse, citando como exemplo as campanhas de difamação promovidas por setores alinhados ao regime militar contra jornalistas e veículos de comunicação.

Sem imagens originais do período, a equipe optou por recriar cenas da prisão e da tortura com o uso de storyboards e ilustrações em estilo de histórias em quadrinhos, produzidas pela artista Paula Villar. Farinaci explicou que as reconstituições foram baseadas em depoimentos de sobreviventes e documentos históricos. “São pessoas que trabalharam com o Herzog e, algumas delas, estiveram presas no mesmo lugar. Era importante que o documentário trouxesse o que foi o terror dessa época, para que não se repita o engano de pedir o retorno do regime militar”, disse o diretor.

O filme mostra ainda como o assassinato de Herzog expôs divisões dentro do regime militar, entre a ala favorável à abertura política, liderada por Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, e a linha dura das Forças Armadas. Segundo Márcia Cunha, “o crime foi tão violento e teve uma repercussão tão grande, que ajudou a acelerar o processo de transição que levaria ao fim da ditadura no Brasil”.

Além do documentário, o ICL lança o podcast Caso Herzog – A foto e a farsa, que detalha a manipulação da imagem divulgada à época para sustentar a versão oficial de suicídio. A foto, feita por um perito da polícia técnica, mostrava o corpo de Herzog em posição incompatível com suicídio, o que se tornaria uma das provas centrais para desmentir a narrativa do regime.

O caso de Vladimir Herzog tornou-se símbolo da resistência democrática no Brasil. Sua morte, inicialmente apresentada como suicídio, foi reconhecida oficialmente décadas depois como resultado de tortura nos porões do DOI-Codi. A luta de sua esposa, Clarice Herzog, e de entidades civis foi determinante para responsabilizar o Estado brasileiro e manter viva a memória de um dos episódios mais marcantes da repressão política no país.