Todo aquele que interpreta livros e ritos e toma isto como fundamento sagrado desconhece o que há de fundamental na fé: O amanhã.
Não há fé no passado. Só há fé no amanhã. E o amanhã é sinônimo de mudança e modernidade.
O século 20 viu crescer uma devoção militante nas principais religiões, chamada popularmente de fundamentalismo e para estes o fracasso da modernidade será causado pela ausência de Deus. O método de qualquer religião traz uma certeza divulgada em forma de monólogo, jamais de diálogo ou debate de ideias, que coloca sempre um ser mitológico e superior acima da vida humana.
As 3 grandes religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo – pregam a paz, a tolerância, a compaixão e o amor ao próximo. Mesmo assim, elas deixaram suas marcas em guerras e banhos de sangue ao longo da história. Cruzadas, expurgos, inquisições, sacrifícios humanos e suicídios em massa são o registro da vitória da ignorância sobre os princípios fundamentais da existência humana.
A única coisa sagrada sobre o planeta é a vida.
A vida tem sido a maior vítima da ignorância quando ela se soma a intolerância seja ela política, racial, sexual ou religiosa e aí, nesses casos, a vítima mais frequente é a vida alheia. Se você se julga “o certo”, certamente está julgando alguém “o errado” e esse é o primeiro passo para o fanatismo.
Fanatismo, vem do latim fanaticus, quer dizer “o que pertence a um templo”, fanum.
O fanático é portador de discursos prontos cujo efeito é a pregação de fundo religioso ou a inculcação política de ideias que poderá vir a se tornar ato agressivo ou violento, tomado sempre como revelação da “ira de Deus” ou “a inevitável marcha da história” ou, ainda, a suposta “superioridade dos certos sobre os errados”.
Tenho medo de me transformar num fanático antifanatismo. Me assustam fanáticos desportivos, estéticos e nacionalistas. Me apavora a ideia de “antitabagistas” que poderiam queimar os que fumam, “vegetarianos” que comeriam vivo quem come carne, “ecologistas” que preferem salvar baleias às pessoas famintas. Temo “marombeiros” que proibiriam andar em público os barrigudos, feios, deficientes e às gordinhas.
Não há fé no “sagrado”. É o conceito de sagrado acima da vida que leva ao julgamento, dele ao preconceito, ao linchamento, ao atentado e ao terrorismo. No final, ao holocausto.
Tudo em nome de Deus.
David Sento-Sé é um publicitário premiado, apaixonado pelo Acre que nada em vários cantos: é artista plástico, músico e compositor, escritor, poeta e professor de comunicação. Sua verdadeira paixão são as panelas admite o Chefe de Cozinha.