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Industria

Tecnologia da Embrapa permite medir pastagens por satélite e apoia manejo sustentável da pecuária

A Embrapa desenvolveu uma metodologia capaz de estimar a quantidade de forragem disponível em pastagens por meio da combinação de imagens de satélite e dados climáticos. O objetivo é fornecer informações precisas que orientem o manejo pecuário e contribuam para a intensificação sustentável da produção de carne e leite no Brasil.

O sistema foi testado ao longo de dois anos na Fazenda Canchim, em São Carlos (SP), em três diferentes modelos de produção: extensivo, intensivo rotacionado e integração lavoura-pecuária (ILP). A acurácia variou conforme o tipo de sistema, alcançando até 86% no modelo extensivo, considerado o mais estável em termos de manejo. A ferramenta, baseada no modelo SAFER, utiliza dados de satélites da Nasa e da ESA, além de variáveis como radiação solar, temperatura, umidade e vento, para simular o crescimento da forragem.

Gustavo Bayma, da Embrapa Meio Ambiente, explicou que a equipe adaptou o modelo SAFER — até então aplicado majoritariamente para medir demanda hídrica — ao monitoramento de pastagens, o que representa um uso inédito no contexto forrageiro. A distinção entre matéria verde e matéria seca total foi essencial para aprimorar a precisão dos cálculos.

Segundo a pesquisadora Sandra Nogueira, a matéria verde reflete diretamente o que é consumido pelos animais, enquanto a matéria seca inclui resíduos de menor valor nutritivo. Essa diferenciação permitiu aos pesquisadores melhorar as estimativas e alinhar os dados de campo com os gerados pelo modelo.

A pesquisadora Patrícia Santos destacou que tecnologias de sensoriamento remoto como essa têm potencial para transformar o planejamento e a gestão das áreas de pasto, além de subsidiar políticas públicas, como o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas. Para ela, a ferramenta pode ajudar o país a ampliar sua produtividade pecuária sem necessidade de novas áreas de desmatamento, já que, segundo dados da Embrapa, o Brasil possui 28 milhões de hectares de pastagens degradadas com potencial de recuperação.

Marcos Adami, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ressaltou que o uso de sensores hiperespectrais, drones e inteligência artificial deverá ampliar ainda mais a capacidade de previsão e monitoramento das pastagens em tempo real.

Entre 2000 e 2020, a área de pastagens manejadas no Brasil aumentou em cerca de 28%, totalizando mais de 113 milhões de hectares, segundo o IBGE. Para atender à demanda crescente por alimentos e reduzir os impactos ambientais, a expectativa da Embrapa é que os sistemas integrados de produção, que somavam 17,4 milhões de hectares em 2020, alcancem 30 milhões até 2030.

Ao permitir o monitoramento contínuo e em larga escala das pastagens, a nova metodologia se apresenta como uma ferramenta estratégica para a pecuária nacional, alinhando produtividade e preservação ambiental.