Nos últimos 30 anos, a agricultura brasileira apresentou um avanço médio anual de 2,59%, enquanto o crescimento no uso de insumos foi de 0,97% ao ano. A diferença entre os índices é atribuída, principalmente, à ampliação da pesquisa agropecuária e ao aumento da escolaridade no campo. Os dados foram apresentados pelo economista Steven Helfand, da Universidade da Califórnia, durante seminário realizado na sede da Embrapa Trigo, no Rio Grande do Sul, como parte da programação do Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER).
A análise abrange o período entre 1985 e 2017, e considera o desempenho da produção agrícola nos diferentes biomas brasileiros. O Cerrado liderou o crescimento da produtividade, com avanço médio anual de 2,43%. Em contrapartida, a Caatinga teve desempenho praticamente estagnado. A Amazônia e a Mata Atlântica registraram aumentos de 1% e 1,25% ao ano, respectivamente.
Além disso, o estudo destaca que o nível de escolaridade dos produtores rurais influenciou diretamente os resultados. No Cerrado, o índice médio de educação foi o mais alto entre os biomas analisados (0,30), enquanto a Caatinga apresentou o menor (0,16). Segundo Helfand, a maior parte dos agricultores com baixa produtividade nos anos 1980 permaneceu nesse grupo três décadas depois, especialmente nas regiões menos assistidas por políticas públicas.
A pesquisa mostra também que a modernização da agricultura, sobretudo a partir da década de 1990, foi marcada pela expansão das lavouras de grãos. Até então, a produção agropecuária era dominada principalmente pela pecuária. Os avanços foram impulsionados por investimentos públicos de longo prazo, coordenados por instituições como a Embrapa. De acordo com o pesquisador Antônio Buainain, da Unicamp, o desenvolvimento agrícola do Cerrado é um exemplo de planejamento estatal bem-sucedido, que não teve origem no setor privado.
Os pesquisadores ressaltam que os efeitos dos investimentos em ciência e tecnologia demoram a se consolidar: os primeiros impactos aparecem cerca de quatro anos após a aplicação dos recursos, com pico entre o 12º e o 14º ano. O ciclo completo pode durar até 22 anos. Isso reforça a necessidade de planejamento estratégico de longo prazo para a agricultura.
Outro ponto abordado foi a concentração da produção: 10% dos produtores respondem por 85% da produção nacional, o que evidencia a desigualdade no setor. A agricultura familiar e de subsistência, especialmente na América Latina, é a mais impactada pelas mudanças climáticas e pela escassez de políticas públicas, segundo Buainain.
Para Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, a pesquisa pública tem papel fundamental para garantir equilíbrio entre produtividade, sustentabilidade e justiça social no campo. Ele defende que o trabalho da Embrapa deve seguir atento aos desafios atuais e às transformações em curso no setor agropecuário.
O seminário fez parte da programação do 63º Congresso da SOBER, realizado entre os dias 27 e 31 de julho na Universidade de Passo Fundo (RS).