Connect with us

Empreender

Artesanato acreano projeta a Amazônia no cenário global e fortalece a economia das mulheres da floresta

O Acre tem se consolidado como referência em moda sustentável e produção artesanal com base na floresta, conectando tradição indígena e inovação empreendedora. As biojoias e tecidos criados por artesãs de diferentes regiões do estado alcançaram espaços internacionais, como exposições na Organização das Nações Unidas (ONU), desfiles em Paris e publicações na revista Vogue, mostrando que o trabalho coletivo de mulheres e comunidades tradicionais é também um motor de desenvolvimento econômico e cultural.

Raimunda Nonata da Silva Pinheiro, do povo Huni Kuin, é uma das referências dessa trajetória. À frente da Associação das Produtoras de Artesanato das Mulheres Indígenas Kaxinawá de Tarauacá e Jordão (Apaminktaj), ela coordena mais de 500 mulheres que transformam algodão cultivado nas aldeias em roupas, faixas e colares tingidos com pigmentos naturais. A artesã aprendeu a tecer observando a mãe e a avó e, com apoio do Sebrae, aprimorou técnicas e ampliou a comercialização das peças. Em 2013, foi convidada a representar o Acre em uma mostra na sede da ONU, em Nova York, como exemplo de empreendedorismo indígena feminino.

Outro nome marcante é Maria José Menezes, nascida no Seringal Flora, em Cruzeiro do Sul. Ela começou a produzir ainda criança e hoje é parte da cooperativa Coopmave, que reúne artesãs especializadas em biojoias e pintura. Suas peças utilizam sementes de açaí, paxiubão e jarina, colhidas de forma sustentável. Para Maria José, o artesanato representa autonomia e continuidade da floresta. “Quando criamos, transformamos a natureza em arte e preservação”, diz.

O crescimento do setor é resultado de políticas e programas de incentivo à produção artesanal. O Sebrae Acre estruturou um modelo de capacitação voltado à gestão, comercialização e fortalecimento de cooperativas. Segundo o gestor Aldemar Maciel, o artesanato tornou-se um espaço de emancipação social. “A arte dessas mulheres é também um caminho para a liberdade econômica, para a afirmação cultural e para o fortalecimento da economia solidária”, explica.

Os resultados aparecem nas feiras e eventos nacionais. Em 2024, na Feira Nacional de Negócios de Artesanato (Fenearte), artesãos acreanos comercializaram mais de R$ 320 mil em produtos, consolidando o estado entre os principais polos da Região Norte. Para o secretário de Turismo e Empreendedorismo, Marcelo Messias, o setor tem papel central na valorização da identidade regional. “O artesanato conta a história do Acre. Cada peça é uma lembrança viva da nossa cultura e da nossa floresta”, afirmou.

A artesã Márcia Silvia de Lima também ajudou a projetar o Acre no exterior. Fundadora da Associação Buriti da Amazônia, formada por 19 mulheres, ela produz biojoias e peças decorativas que chegaram a passarelas internacionais. Com apoio da Apex Brasil e do Sebrae, participou de eventos na Colômbia e em São Paulo, firmando parceria com a estilista Flavia Aranha. Suas criações foram exibidas em desfiles com as primeiras-damas Brigitte Macron e Janja Lula, além de ganharem destaque em revistas especializadas.

Para a coordenadora do Artesanato Acreano, Risoleta Queiroz, a força do setor está no vínculo entre natureza, técnica e coletividade. “As biojoias e os tecidos feitos com matérias-primas da floresta unem tradição e inovação. É o artesanato que sustenta famílias e movimenta a economia local com base no respeito à floresta”, afirma.

A moda sustentável do Acre mostra que a floresta também é economia, conhecimento e expressão. Entre sementes, linhas e pigmentos, mulheres transformam o que nasce na Amazônia em arte que cruza fronteiras, gera renda e reafirma a presença do Acre no mapa mundial da moda sustentável.