Em meio à crise climática desencadeada pela intensificação do fenômeno El Niño, dados do “Boletim semanal sobre a seca no Estado do Acre – de 8 a 15 de novembro”, divulgados pelo governo estadual, fornecem informações cruciais sobre os desafios enfrentados pela região. O governo federal reconheceu a situação de emergência nos 22 municípios do estado, em 16 de outubro, devido à escassez de chuvas.
O decreto estadual de 6 de outubro já alertava para a iminente possibilidade de desabastecimento no sistema de água. Em resposta, em 1º de novembro, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional autorizou o repasse de R$ 8,2 milhões para auxiliar famílias impactadas pela estiagem prolongada.
A previsão do tempo indica chuvas para a Região Norte, especialmente no Acre, com valores superiores a 50 mm. Contudo, áreas pontuais de Rondônia, Pará e Tocantins podem ter menores acumulados devido ao calor e alta umidade. Outras regiões devem enfrentar tempo seco de 13 a 20 de novembro. As informações são do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma), órgão ligado à Secretaria do Meio Ambiente (Sema), com dados baseados no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)
Na última quinta-feira, 16, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) sediou a mesa “Crise climática e desastres como consequência do El Niño 2023-2024: impactos observados e esperados no Brasil”, onde renomados cientistas alertaram para o agravamento dos extremos climáticos no país à medida que o El Niño avança para o pico de sua atividade em dezembro.
A seca, agravada pela intensificação do El Niño, tem impactos profundos, conforme destacado pelo relatório que detalha não apenas a escassez de chuvas, mas também os níveis dos principais rios, focos de calor, incêndios combatidos e a crítica situação do abastecimento de água.
O El Niño, fenômeno climático que ocorre quando os ventos alísios enfraquecem no Oceano Pacífico, eleva as temperaturas das águas superficiais, afetando os padrões climáticos globais. A oceanógrafa Regina Rodrigues, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), alertou que o El Niño em curso é um dos mais fortes, com o Pacífico tropical aquecido em 1,8 °C, categorizando-o como intenso a muito intenso.
O Brasil, entre os países mais afetados pelo El Niño, enfrenta aumento de chuvas torrenciais no Sul e secas intensas no Norte e Nordeste. As inundações no Rio Grande do Sul em setembro e a seca histórica na Amazônia são exemplos das consequências já observadas.
Carlos Nobre, climatologista e participante do Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas (IPCC), alertou para o risco iminente de ultrapassar um ponto de não-retorno na Amazônia. Ele destacou a importância do Brasil, com a maior floresta tropical do mundo, no controle climático global. Dados que mostram que a própria floresta definha, com a combinação de seca e queimadas, e é previsto um aumento de 300% na mortalidade de árvores. A gravidade da situação também se mede no número de ondas de calor. Nobre mostrou um estudo publicado em 2021 na revista “Science”, que estimava que uma pessoa nascida em 1960 passaria por pelo menos sete ondas ao longo da vida. No Brasil de 2023, as ondas já somam oito este ano.
Foto: Alexandre Cruz-Noronha/Sema