O Projeto Rio Madeira, iniciativa de REDD+ voltada à redução de emissões por desmatamento e degradação florestal, firmou parceria com a Embrapa Acre e a Future Climate para valorizar a castanha-da-amazônia e ampliar ações de conservação entre Rondônia e Amazonas. A área do projeto abrange 52 mil hectares e combina gestão florestal com fortalecimento da cadeia produtiva da castanha.
Um dos eixos da colaboração é o uso do Netflora, tecnologia da Embrapa que aplica drones e inteligência artificial no mapeamento da floresta. Com o sistema, já foram inventariados 26 mil hectares, identificadas 27 mil castanheiras e registradas 23 espécies florestais. Os extrativistas receberam capacitação técnica para adoção de boas práticas na coleta e manejo, além de acesso a ferramentas digitais que permitem organizar e rastrear a produção mesmo em regiões sem conexão de internet.
De acordo com a coordenadora da Future Climate, Jessica Guin, o modelo alia conservação e geração de renda. “Ao promover a conservação dos castanhais e a coleta sustentável, os extrativistas passam a integrar uma cadeia produtiva de base florestal, que também contribui para a redução de emissões de gases de efeito estufa”, afirmou. O programa de créditos de carbono, iniciado em 2019, tem prazo de 30 anos e estima evitar a emissão de 15 milhões de toneladas de carbono.
O trabalho também inclui medidas para enfrentar a contaminação das castanhas por aflatoxinas, que comprometem o acesso a mercados internacionais. A pesquisadora da Embrapa Acre Cleísa Brasil destacou que a qualidade do produto depende da adoção de procedimentos adequados. “Nosso objetivo é sensibilizar as famílias coletoras sobre coleta e quebra corretas dos ouriços, seleção das sementes, armazenamento e transporte em condições adequadas”, explicou. Segundo ela, a segurança dos coletores também é central, sendo reforçada pela distribuição de equipamentos de proteção individual.
Mulheres têm papel importante na atividade, embora ainda pouco reconhecido. Maria Maia, coletora da região, relatou que participa de todas as etapas, inclusive do transporte da produção. Outras histórias, como a de Maria Aparecida, que começou aos 12 anos acompanhando os pais e mantém a tradição com filhos e irmãs, reforçam o caráter intergeracional do extrativismo na região.
As experiências foram registradas em vídeos educativos, como “Boas práticas de produção da castanha-da-amazônia” e “Projeto Rio Madeira: a floresta é nossa maior riqueza”, que mostram depoimentos de coletores e orientações sobre qualidade e segurança. As ações somam conservação ambiental, fortalecimento da economia local e reconhecimento social das famílias extrativistas, que passam a ser vistas também como guardiãs da floresta.