Connect with us

Empreender

Povo Paiter Suruí combina empreendedorismo e preservação na Terra Indígena Sete de Setembro

O povo Paiter Suruí, em Rondônia, desenvolve um modelo de gestão territorial que une preservação ambiental e empreendedorismo sustentável. Na Terra Indígena Sete de Setembro, com cerca de 250 mil hectares, 1.200 indígenas distribuídos em 40 aldeias transformaram antigas áreas de ocupação em base para uma nova economia, fundada no respeito à floresta e na autonomia comunitária.

Após a demarcação do território, nos anos 1970, os Paiter retomaram as terras ocupadas e encontraram cafezais deixados por colonos. O café, antes símbolo da invasão, foi incorporado à cultura local como instrumento de sustento e reflorestamento. Atualmente, 176 agricultores de 35 aldeias produzem cerca de 1.600 sacas por safra em sistemas agroflorestais, com apoio da indústria Três Corações, que adquire 100% da produção por meio do Projeto Tribos. O café Paiter, comercializado sob a marca Sarikab, já foi classificado como “especial” em premiações locais. “Adotamos o café como se fosse nosso”, explica Celesty Suruí, barista e liderança jovem. “Acredito que através do café temos o poder de mudar o futuro, é uma ferramenta de levar a cultura e tradição do nosso povo.”

Outra frente de atuação é o Complexo Yabnaby, criado como projeto de turismo de base comunitária. Localizado dentro da Terra Indígena Sete de Setembro, o espaço recebe visitantes interessados em vivências culturais e ambientais. O projeto foi estruturado com apoio do Sebrae, que ofereceu capacitação em hospitalidade, recepção e condução de trilhas. “O turismo surgiu da nossa necessidade de gerar renda e preservar a cultura”, afirma Almir Suruí, liderança do território. “Dentro do turismo, a gente cria o contato direto com outra sociedade. Educação, saúde, desenvolvimento e meio ambiente estão todos conectados.” Em 2024, o Yabnaby recebeu cerca de 240 turistas e obteve investimento de R$ 522 mil do Programa Prioritário de Bioeconomia para um plano estratégico de negócios.

A juventude Paiter também atua na comunicação. O coletivo audiovisual Lakapoy, formado por jovens cinegrafistas e fotógrafos, registra e divulga as atividades do povo, garantindo autonomia na produção de conteúdo e na preservação cultural. “Nosso sonho é que cada aldeia tenha um comunicador, para que a gente tenha uma rede de comunicação interna e saiba o que está acontecendo em todo o território”, afirma Ubiratan Suruí, um dos fundadores. O grupo realiza produções em tupi-mondé, participa de coproduções com jornalistas e organiza exposições como Gente de Verdade, que reúne relatos e imagens das aldeias.

As iniciativas seguem em expansão. No campo agrícola, os Paiter ampliam o cultivo de cacau, com meta de implantar uma fábrica de chocolate no território. No turismo, o Yabnaby planeja aumentar a capacidade de hospedagem. Já o Lakapoy prepara novos documentários e projetos de comunicação comunitária. Além disso, há planos para um novo projeto de crédito de carbono, gerido integralmente pelos próprios indígenas, com base na experiência anterior de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, interrompida em 2018. “O empreendedorismo é fundamental para fortalecer a economia do nosso povo e mostrar que somos donos dos nossos caminhos”, resume Almir Suruí.